Mensagem no celular
Mensagem
no celular
Nada em Paulo denunciava o que estava por acontecer. Estava
casado há sete anos com Elisa que nos últimos meses, vinha insistindo que já
era hora de pensarem em ter um filho. Queria muito ser mãe.
Naquele dia, como de hábito, encontraram-se para almoçar.
Na primeira mesa vazia sentaram frente a frente. O garçom chegou com o cardápio. Paulo passou os
olhos rapidamente pelas colunas, como se já soubesse o que pedir: filé com
fritas e salada.
― Para mim o mesmo. E Coca Light ― completou a esposa.
Olham ao redor. Ninguém conhecido no restaurante. Os
olhares se encontram em silêncio. Ele desvia. Pega o celular no bolso interno
da jaqueta. Ao mesmo tempo, ela procura na bolsa o seu aparelho, e os dois se
concentram em examinar mensagens. Cabeça baixa, enterrada entre os ombros, eles
teclam respostas e tuitam. O mundo se afunila na rede social que os faz comunicar-se
com o universo.
O pedido chega à mesa. Garfo na mão, olho no celular. Como
autômatos, abrem a boca, enfiam o garfo, mastigam, engolem. E tuitam. Tuitam e
engolem. Cada um, um universo pessoal, compartilhado com estranhos ― anônimos
que agora são chamados de amigos.
Sempre em silêncio, os pratos se esvaziam. Com um
levantar de braço, Paulo chama o garçom e pede a conta. Enquanto esperam,
tuitam. O movimento é grande àquela hora, e ele com pressa, vai ao Caixa para
pagar. Deixa o celular sobre a mesa. Elisa ouve som de mensagem chegando: pode
ser algo importante. Pega o aparelho e não acredita no que lê.
A mensagem é um recado de Dirceu, companheiro de futebol,
dizendo que não pode mais viver sem ele.
(011)
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