O prêmio da Rifa
― Corre na venda, Quinzinho,
buscar farinha. Depressa, homem, se não desanda o fermento.
E lá foi ele, passo
folgado, gingando de um lado pro outro. Pegou a farinha e, quando já estava na
porta, de saída, uma figura grudada na porta do armazém o fez parar: uma foto
muito colorida mostrava um mar lindo, verdinho, montanhas e um moço e uma moça,
bonitos, rindo, felizes.
Quinzinho olhou aquela
figura e começou a sonhar: ‘Que bom se a gente pudesse ir pra um lugar desses e
ver esta belezura toda. Se molhar nessa água... ’
― E aí, amigo, não quer
aproveitar e comprar um número da rifa? O prêmio é uma viagem aí pra estas
praias. Quem sabe se o amigo não tem sorte e ganha? – falou Teodoro encostado
no balcão bebericando uma branquinha.
― Pois é, seria pra lá
de bom, mas... quanto é mesmo o número? Só isso? Então me passa já. Vou jogar
no numero do túmulo do meu pai. Quem sabe o velho me dá este presente? !
Pois, o pão ficou
pronto, e muito gostoso como sempre. Foi todinho no jantar. Quinzinho não falou
nada pra Nina sobre a rifa. Primeiro, porque ela ia ficar uma fera: odiava
essas coisas de jogo; e depois, ela andava muito ranzinza, reclamando de tudo. Mas se eu ganhasse, ela ia ficar faceira. Ah,
isso ia.
Semanas depois, houve o
sorteio e quem ganhou o prêmio? O Quinzinho! Pois não é de se acreditar, mas
foi ele.
Naquela mesma tarde voltando
da fábrica, ele viu, de longe ainda, um monte de gente aos gritos, acenando os
braços em sua direção. Estavam todos em frente ao armazém e chamavam pelo seu
nome. Coisa ruim não deveria ser, pois a cara do pessoal era boa. O que seria?
― Já ganhou! Tu é o
maior! Sortudo!
― O que é isso,
pessoal? - Quinzinho já nem lembrava mais do sorteio.
A areia branquinha
escorregava pelos dedos de Nina. Ela estava bonita, como no dia do casamento. O
vestido de algodão, o cabelo preso com fita azul. Ria muito. Quinzinho se
encantava de olhar pra ela. Também, coitada, não é fácil: a casa, o Tavinho, a
mãe dela doente. Olha que coisa mais linda que ela está.
Cedo ainda, os dois, ali
na praia, passeavam, com os pés na água. Era igualzinho à figura que ele viu lá
no bolicho. Aos poucos os turistas começaram a chegar. Famílias inteiras:
criançada, moços e moças, e o povo se apinhava. O casal olhava tudo admirado e se
espantava ao ver que ninguém mais se entendia: era gente vendendo sorvete,
sanduíche; vendedor de bebida, passando entre as pessoas, quase pisando nas
pernas, cadeira pra cá, toalha pra lá. Quinzinho começou a se enervar vendo
aquela mulherada quase nua, – uma indecência! E os rapazes, com uma cuequinha
apertada, – que horror! Achou que isto era coisa só de artista de cinema.
E no seu passo lento, lá
foi o Quinzinho. Pediu os ovos pro seu Pedro. Fiado.
―E daí amigo, como foi de
viagem? Prêmio bom este, ein?
― É, foi bom, mas sabe
de uma coisa, quem gosta de aglomerado é mosca em bicheira. Eu prefiro mesmo é
ficar aqui, com a minha Nina fazendo bolo, e correndo no armazém ― pra não perder o costume. Né?
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