Quebrando a cara / Encontro com o passado
Quebrando a cara
Zé
chegou foi pra casa trocando as pernas:
tinha passado no boteco do Ramires e tomado
umas e outras.
O casebre
estava vazio. Da porta, ele enxergava tudo: a cama desarrumada, a mesa, as
cadeiras (tinha só duas, pois as outras ele quebrara de ódio – ódio e raiva).
Na pia, panela, caneco e prato sujo. Entrou tropeçando e caiu como um saco de
batatas, batendo a cabeça no chão. Ficou lá, ferida aberta.
Quando
abriu os olhos, já noite, viu a crua realidade: não tinha mais mulher, nem
emprego, e a única alegria do idiota era voltar ao boteco, pra turma do beco – e
já!
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Encontro com o passado
Ele chegou no
trem das cinco. Desceu a ladeira apressado. Tudo havia mudado.
Parou frente à
casa de madeira. Viu marcas no corrimão e subiu os degraus de pedra. Um a um. A
mesma porta. Entrou sentindo o cheiro de pão fresco.
O corredor amplo com
samambaias leva à cozinha, onde o calor do fogão à lenha convida a sentar.
O mate, o rosto alegre
― agora enrugado. Cabelos brancos presos em coque. E ainda o mesmo avental dizendo
BOM DIA!
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